Sander, ex-vocalista da boyband Twister, dividiu cela em presídio com irmãos Cravinhos

Sander, ex-vocalista da boyband Twister, dividiu cela em presídio com irmãos Cravinhos
História dos irmãos, condenados junto com Suzane von Richthofen pela morte dos pais dela, voltou à tona com lançamento de filmes. Cantor já disse ao g1 que eles ficaram junto em cela chamada de 'Casa dos artistas'. À esquerda, Sander à frente do Twister. Ao lado, os irmãos Cravinhos, presos pela morte dos pais de Manfred e Marísia von Richthofen,

Divulgação e Reprodução / GloboNews

A história dos irmãos Cravinhos voltou à tona em 2021 com os dois filmes que mostram como eles foram condenados junto com Suzane von Richtofen pelo assassinato dos pais dela em 2002.

O filme não mostra a vida deles na prisão. Mas a história de Daniel e Cristian Cravinhos se cruzou lá com a de outro jovem que ficou muito conhecido no início dos anos 2000 e acabou na penitenciária.

Sander Mecca, cantor que já foi figurinha fácil em TVs e rádios do Brasil na boyband Twister, foi preso em 2003, após o fim do grupo. Ele foi flagrado em SP com drogas e enquadrado como traficante.

Sander contou ao G1 que ficou em Belém II na mesma cela dos irmãos Cravinhos e de outro detento que tinha o apelido de "Tony Ramos", por ter muitos pelos no corpo. O cantor era chamado por lá de "Tuíste". A cela deles ganhou uma placa na porta feita pelos outros presos com o nome que deram ao local: "Casa dos Artistas".

Caso Richtofen, da esquerda para a direita: Cristian Cravinhos, Suzane von Richtofen e Daniel Cravinhos, condenados a 39 anos pelo assassinato dos pais dela em 2002

Arte G1/ Carlos Henrique Dias/G1/ Luara Leimig/ TV Vanguarda/ Jomar Bellini/TV TEM

Caso Richthofen: quase 20 anos depois, como estão os condenados retratados em filme pela morte do casal Manfred e Marísia?

Sander contou essa história ao g1 em 2017, quando falou sobre as apresentações que fazia ns linhas verde e azul do metrô de São Paulo. Ele embarcou na empreitada para divulgar um EP e complementar a renda na música. Veja o vídeo abaixo.

Sander: do Twister ao metrô

"Prefiro o que faço agora", diz, comparando a liberdade musical de hoje e do Twister, que teve os hits "40 graus" e "Perdi você" em 2000 e abriu para o 'NSync no Estádio Azteca, no México, em 2001.

Liberdade é palavra-chave na trajetória de reviravoltas. Em 2003, após o fim do grupo, Sander foi preso em SP com drogas e enquadrado como traficante - ele alega que eram só para consumo próprio. Cumpriu pena até 2005.

Durante dez anos, participou do projeto Oficina dos Menestreis, que faz espetáculos de teatro e música em SP. Em 2013, rolou uma breve turnê de reunião do Twister. "Mas as músicas de antes não têm nada a ver com as minhas de hoje. Foi só um revival", diz.

Em 2016 ele lançou o EP solo "Não Estrutural" (ouça). Uma das músicas foi gravada com Zeca Baleiro ("Dia de são nunca") e outra foi composta por Zeca para Sander ("Um pária").

"Faço outros shows em lugares pequenos na Vila Madalena, Pinheiros. E há três meses uso os shows no metrô como divulgação do EP e como renda. É mais lucrativo que depender de couvert. Com a crise, o pessoal não tem saído de casa e é difícil ter shows cheios".

Quando estourou no Twister, Sander tinha 17 anos. "Tive minha fase difícil, de glória, tensa, 'trash'... Tudo constrói o artista e a pessoa que sou hoje. Pensei: por que não ir para a rua, no metrô? Achei interessante e fui incentivado por amigos. Pedi dicas e fui aprendendo. Tem o horário certo, o trecho certo. Aprendi que tem que cantar antes da estação Consolação, quando todo mundo sai."

Ao ser solto, virou a página e investe em música autoral em shows solo de rock e MPB.

Twister em foto de 2001, com Sander à frente

Divulgação

"As pessoas recebem bem, algumas me reconhecem. Mas, às vezes, no fim da tarde, você pega gente que nem tira o fone de ouvido. Vou pronto para receber qualquer tipo de pessoa. Passo a cartola sem vergonha nenhuma, e 'vamo que vamo'." Ele diz que chega a ganhar entre R$ 200 e 300 em uma tarde no metrô.

E se algum passageiro pede para Sander cantar "40 graus"? "Já pediram. Mas aí eu falo: 'Pô, essa daí eu era garoto, muito jovem.' E mostro o que eu estou fazendo agora". Não rola o revival, mas sempre tem pelo menos uma selfie com fãs das antigas no vagão. As apresentações no metrô são na raça, sem nenhum apoio.

"Inclusive os seguranças me colocam para fora se veem. O Metrô considera uma contravenção leve, e geralmente tira a pessoa com respeito".

Em 2017, um vídeo postado pelo DJ Fernando Telles repercutiu além do Instagram e fez muita gente descobrir o paradeiro do ex-Twister. "Aumentaram os views, os likes, as audições. Fiquei feliz porque é isso é uma mídia. Arte de guerrilha, ir atrás do povo."

"Prefiro cantar o que eu e meus amigos compomos, dando um recado muito mais autêntico. O Twister foi divertido, aprendi com o mainstream, mas a gente era garoto, longe de ter identidade".

"Até o que dizer em entrevista era ditado pela gravadora. Nem se compara com a liberdade de hoje. Fui me descobrindo, achei minha personalidade e estou muito feliz de fazer shows no metrô, na rua. Estou muito mais contente que antes."

Sander espera o metrô junto com sua namorada, que também é cantora e às vezes o acompanha nas apresentações, Marília Calderon

Arquivo pessoal

'Plot Twister'

Outra fonte ocasional de renda são palestras sobre a experiência na prisão, tema do seu livro "Inferno amarelo". Entre os casos do livro, ele lembra que tomou LSD para gravar o clipe de "40 graus" (aquele com uma roupa que lembra um astronauta).

Ele também conta que, na prisão, durante um banho de sol, um guarda apontou uma arma para sua cabeça e o forçou o "Tuíste" a cantar "40 graus" para os presos. Se fosse filme, daria para achar forçados os "plot twists", ou viradas no roteiro.

Uma última pergunta para Sander Mecca: Por que ele escreveu a frase "É tudo ilusão" no seu status no WhatsApp? "Porque eu não sei o que é real ou não. Se gente está vendo uma coisa, pode ser só uma projeção que o cérebro mostra. Se eu estou pegando em uma pedra, não sei se ela existe."

Para quem já cantou em estádio lotado, na penitenciária, em clipe vestido de astronauta e em vagão de metrô, descobrir que foi tudo ilusão tipo "Matrix" não seria tão absurdo mesmo.

A boy band Twister em foto de 2013, com Sander à direita

Divulgação

Sander Mecca

Divulgação / Vanessa Curci