Coletivo de drag queens pretas faz espetáculo no aniversário de Salvador: 'Nosso presente é a representatividade'

Coletivo de drag queens pretas faz espetáculo no aniversário de Salvador: 'Nosso presente é a representatividade'

Nesta segunda-feira (29), quando é comemorado o aniversário de Salvador, o coletivo "Bonecas Pretas" vai fazer uma live, a partir das 19h, com transmissão gratuita pelo canal no Youtube. O evento, que é um "presente" do grupo para a capital, também é um lembrete para a valorização dos corpos negros LGBTQIA+ e periféricos da cidade. [Veja trecho do vídeo]

O evento 'Bonecas Pretas: um presente para Salvador' terá 1h30 de duração, aproximadamente, e vai utilizar várias linguagens como dublagem, dança, audiovisual, poesia. O coletivo homônimo foi formado no final de 2016, pelas drag queens Alehandra Dellavega, Dandara, Ferah Sunshine, Sasha Heels, Saphyra Luzz e Suzzy D’Costa. Leva o nome de uma faixa da música de trabalho da cantora Larissa Luz.

A artista Sasha Heels é uma das integrantes do Bonecas Pretas. Para ela, a importância de um coletivo de drag queen negras em Salvador está na questão da visibilidade de corpos diversos.

"Por mais que Salvador seja uma cidade com muita gente negra, ainda há muito racismo. O que nós fazemos com essa homenagem é justamente entregar de presente para Salvador o que ela precisa: representatividade. Queremos mostrar essas artistas negras e esse trabalho tão importante", ressalta.

Sasha conta que a arte drag entrou por acaso na sua vida, há cinco anos, quando decidiu se montar para um festa de halloween. Depois disso, tomou gosto e atualmente esta é a única fonte de renda.

"Quando comecei a me montar eu fazia escondido da minha mãe, que é evangélica. Levava as coisas tudo na mochila. Hoje em dia ela já sabe, mas não comenta o assunto. Mesmo assim nos damos bem", explica.

Atualmente, com os eventos culturais cancelados por causa da pandemia do novo coronavírus, a artista diz que sente muita falta dos palcos. "Nesse período de pandemia está complicado porque sinto falta do contato físico. Eu gosto de trabalhar, gosto de ver as pessoas, de ver as reações", conta.

A iniciativa tem a intenção de transformar o conceito de entretenimento dos shows de Drag Queens trazendo para o palco um conceito ativista de fazer arte e política, com forte engajamento contra opressões de gênero, raça e classe.

Valorização

Coletivo de drags negras estreia espetáculo no aniversário de Salvador

Claiton Libra / Divulgação

“A perspectiva do espetáculo é tratar de maneira lúdica questões como: racismo estrutural, violência contra a mulher, LGBTfobia, capacitismo, gordofobia e o direito de corpos dissidentes serem representados de forma humanizada”, explica David Souza, coordenador do projeto.

Ferah Sunshine, que faz parte do coletivo desde a formação, conta que a cena drag queen em Salvador, apesar ainda sofrer muito estigma, tem evoluído bastante.

"Antes nós éramos vistos como palhaços. Hoje em dia as pessoas têm tomado consciência do corpo 'drag' como uma ação política. Mas, como o racismo ainda é parte estrutural da sociedade, ele ainda se reflete na cena", explica.

Ferah conta que viu uma artista drag queen ao vivo pela primeira vez em 2003 e desde então ficou com vontade de fazer o mesmo. Mas a coragem só veio em 2011, quando se montou pela primeira vez. A partir disso, não parou mais. Hoje em dia ele tem um emprego fixo, mas conta que já passou momentos em que vivia somente da vida artística.

" A arte drag é uma arte que qualquer pessoa pode fazer, não é exclusiva para homem gay. Não se trata de uma caricatura do corpo feminino, como muita gente acredita, é mais do que isso. É uma expressão do corpo e uma ação política", reforça.

Bonecas pretas se apresenta nesta segunda-feira (29)

Claiton Libra / Divulgação

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