O compromisso das jornalistas feministas indianas chega ao Oscar com 'Writing with fire'

O compromisso das jornalistas feministas indianas chega ao Oscar com 'Writing with fire'
Documentário acompanha jornal indiano com equipe editorial composta exclusivamente por mulheres de castas inferiores. Cena de 'Writing with Fire'

Divulgação

O semanário de notícias do norte da Índia "Khabar Lahariya" e sua equipe editorial, composta exclusivamente por mulheres de castas inferiores, despertaram o interesse de Hollywood, graças ao documentário indicado ao Oscar "Writing with Fire" ("Escrevendo com fogo", em tradução livre), dedicado a elas.

Dirigido pelo casal Rintu Thomas e Sushmit Ghosh, este filme de produção indiana já recebeu dois prêmios no festival de Sundance 2021.

O Oscar 2022 acontece no próximo dia 27 de março. Veja a lista completa de indicados.

"É uma história muito inspiradora, uma história de mulheres que dá esperança", disse o diretor à AFP, na pré-estreia em Los Angeles. "É muito forte, poderoso, especialmente no mundo de hoje, cheio de desconfiança da mídia", acrescentou.

Todas de castas inferiores, as repórteres e demais profissionais da "Khabar Lahariya" ("Ondas de Informação"), fundada em 2002 no estado de Uttar Pradesh, cobrem pautas que vão do roubo de vacas à corrupção local, passando por casos de estupro e de outros tipos de violência de gênero.

Estas comprometidas mulheres conseguiram ganhar o respeito das autoridades, de seus familiares e do público, ao mostrarem uma determinação obstinada e se concentrarem nas notícias locais, muitas vezes ignoradas pelos principais jornais indianos.

"Sair de casa foi um grande desafio", conta Geeta Devi, uma dessas jornalistas, em entrevista à AFP. "Tive que brigar muitas vezes. Meu pai era totalmente contra. Ele me disse: 'Você não pode fazer esse trabalho, não é para mulheres'", continua ela.

Perspectiva feminista

Geeta Devi pertence à casta Dalit, situada na base do implacável e enrijecido sistema de castas que rege a sociedade indiana.

Embora a discriminação institucional contra os Dalits, antes chamados de "intocáveis", tenha sido, em tese, abolida, eles ainda têm menos direitos do que outros membros da sociedade e sofrem estigmatização, humilhações e abusos.

Em Banda, a poucas horas de carro do Taj Mahal, Geeta Devi coleta o testemunho de uma mulher condenada à miséria desde que foi abandonada pelo marido.

A notícia da presença da jornalista se espalhou rapidamente, e as mulheres da vizinhança correram em massa para vê-la, na esperança de que Geeta Devi ouvisse e escrevesse sobre suas queixas, em particular, contra a prefeitura, sobre falta de água potável, e esgotos entupidos.

A repórter diz que se orgulha do tratamento das informações de uma "perspectiva feminista".

Para Meera Devi, uma das editoras, de 35 anos, trata-se de dar voz aos excluídos da Índia.

"Quando luto pelos direitos das minorias, dos povos tribais e de outros grupos marginalizados da sociedade, quando essas pessoas são ouvidas, e a justiça é feita, me sinto muito satisfeita", afirma essa mulher apaixonada por seu trabalho.

Seu trabalho levou ladrões à prisão, e obrigou funcionários municipais a fazerem seu trabalho e atender a comunidade.

"Os homens aqui não estão acostumados a ver mulheres poderosas, principalmente em uma área como o jornalismo. Mas estamos invertendo a tendência", diz.

"Se nós, mulheres, tivermos oportunidades, seremos capazes de tudo", completou.