'Pa-panamericano': como dupla fez hit bizarro após DJ ser demitido de boate no Rio por tocar bêbado

'Pa-panamericano': como dupla fez hit bizarro após DJ ser demitido de boate no Rio por tocar bêbado
Duo australiano Yolanda Be Cool fez sucesso com 'We No Speak Americano', mas música acabou virando 'maldição' para eles. Série 'Quando eu hitei' tem artistas que sumiram após sucesso. Quando eu hitei: Yolanda Be Cool e a estranha 'We No Speak Americano'

Em 2010, começou a tocar em festas do Brasil uma música estranha e repetitiva. Ninguém entendeu muito bem de onde ela vinha. A dupla Yolanda Be Cool era a responsável por "We No Speak Americano", também chamada de "Pa-panamericano".

Andrew Stanley e Matthew Handley já eram DJs com uma carreira consolidada, quando passaram a criar músicas juntos um ano antes, em Sydney, na Austrália.

"Ela é meio que uma música piada, mas aprendemos a amá-la", diz Andrew ao g1.

Na série semanal "Quando eu hitei", artistas do pop relembram como foi o auge e contam como estão agora. São nomes que você talvez não se lembre, mas quando ouve a música pensa “aaaah, isso tocou muito”.

A dupla australiana Yolanda Be Cool We do hit 'We No Speak Americano'

Divulgação

Como o hit foi criado?

"We No Speak Americano" é toda construída a partir de trechos de "Tu vuò fà l'americano", sucesso de 1956 do cantor italiano Renato Carosone. Em português, o título quer dizer "Você gostaria de ser americano".

Versões da música fizeram parte da trilha de vários filmes (veja cenas no vídeo do topo):

Nos anos 50, Carosone cantou a versão original em comédias italianas;

Em 1960, Sofia Loren dançou e cantou a música no filme "Começou em Nápoles";

Em 1999, Jude Law tocou e cantou uma versão no filme "O talentoso Mr. Ripley";

Fora de filmes, além hit eletrônico de 2010, houve uma versão bem picareta do rapper Pitbull, lançada seis meses depois. Era "Bon Bon".

Do underground às paradas

A dupla australiana Yolanda Be Cool We do hit 'We No Speak Americano'

Divulgação

Os dois DJs do Yolanda Be Cool eram da cena underground e nunca pensaram que fariam sucesso deste jeito. Mas a ideia, é claro, foi fazer algo mais leve.

"Sempre vai haver pessoas que fazem música divertida de um jeito cool, o que eu acho que sempre foi nosso objetivo… não é ser sério, mas também não ser muito bobo", diz Matthew.

"Às vezes, quando estou no estúdio com o Matt, eu falo: 'Vem aqui, eu vou tocar uma coisa'. E isso faz a gente se levantar e dançar por todo estúdio... A gente sente aquilo. Eu acho que isso mostra como você está se sentindo, sabe? A gente sabe se vai funcionar", explica Andrew.

Matthew conta que eles já tentaram escrever algo pensando no pop dançante de rádio, mas sem sucesso. "É a coisa mais idiota a se fazer", resume ele.

"É melhor escrever algo para a pista de dança e, se for a melhor música da pista, provavelmente vai ser uma música que irá bem no rádio de qualquer jeito. Então, sim, esse é meu modo de pensar. Faça a maior música do nosso DJ set."

Com esse pensamento de fazer uma boa música de pista, "We No Speak Americano” começou a ser pensada. Mas antes, eles perceberam que bastava tocar a música original que o povo já gostava. A reação ficou ainda mais intensa com a nova versão, uma espécie de "swing no house".

Em uma viagem, eles tocaram a faixa inacabada para D-CUP, produtor australiano que assinaria a música com eles. Ele adorou e aí após mais algumas versões a música foi lançada. Eles mandaram para uma lista de DJs que estava bombando no MySpace e aí...

"De repente eles começaram a tocar, meio que decolou, meio que viralizou", relembra Andrew. "Apareceram pessoas procurando a gente no Facebook e perguntando: 'Essa música é de vocês? É muito louca. Eu estava fazendo amor com minha namorada que conheci no clube'."

Matthew recorda que o primeiro lugar a abraçar o hit foi o bastante específico "circuito de clubs hétero na Austrália". "Mas aí rádios começaram a tocar e foi quando a gente pensou 'isso é tão estranho'. Porque falavam 'acabamos de tocar Britney Spears e o próximo é, você sabe, Yolanda Be Cool e DCUP'."

"Nunca pensamos que teríamos uma música tocando na rádio logo após tocarem Britney Spears. Mas a gente teve."

O clipe de 'We No Speak Americano'

Reprodução

Um DJ perdido no Leblon

Antes do sucesso, Matt foi DJ no Brasil entre 2004 e 2005. "Eu tinha zero dólares na minha conta... e foi por isso que fui embora do Brasil, porque se não fosse isso eu estaria na pior."

"Eu fiz residência em um clube do Leblon chamado Melt. Então, eu costumava tocar lá todas as sextas-feiras por um tempo. Até uma noite, eu estava muito bêbado e tocando vinil e as agulhas estavam quebrando, as agulhas estavam pulando e foi um desastre."

Mas será que alguém da família do cantor e compositor original, o Renato Carosone, ouviu "We no speak americano"?

"Ainda tenho uma ideia, quero fazer isso, de talvez andar um pouco de Vespa da Sicília até Ibiza. Mas, no caminho, vou procurar um parente dele e tomar uma cerveja com ele", diz Andrew, brincando. "Talvez pedir para um dos parentes comprar a cerveja", completa Matt.

É sério isso?

A dupla australiana Yolanda Be Cool We do hit 'We No Speak Americano'

Divulgação

O sucesso de "We no speak americano" trouxe uma pressão por mais hits zoeira. E eles não eram DJs que curtiam tanto fazer esse tipo de música, queriam um som mais alternativo.

"Fomos jogados em um mundo que não estávamos tão preparados para estar", diz Matt. "Em alguns shows para os quais fomos contratados, as pessoas vinham e falavam: 'Vocês fizeram uma música que é pop, então vocês só vão tocar pop'."

"Foi difícil. Levamos alguns anos para descobrir que a melhor maneira de lidar com isso era tentar fazer músicas para a pista de dança, que é o que temos feito nos últimos anos. E funcionou muito melhor do que quando estávamos tentando fazer músicas para ser uma sequência de 'Americano'."

O hit não fez com que eles ficassem bilionários, mas foi importante para que largarem "os empregos diurnos". "Abriu um mundo de turnês e viagens que nunca imaginamos", diz Matt.

"Eu gosto de ir para cidades que não podemos nem pronunciar e soletrar. Gostei de tocar em lugares como a Sibéria. É bem legal pensar que sua música te levou para esses lugares, sabe? Eu acho que além do dinheiro essa música nos fez viver uma época muito boa."

VÍDEOS: QUANDO EU HITEI