Duda Beat afina o discurso em artificial álbum eletrônico, 'Tara e tal', produzido para jogar a artista na pista da EDM

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Duda Beat afina o discurso em artificial álbum eletrônico, 'Tara e tal', produzido para jogar a artista na pista da EDM
Capa do álbum 'Tara e tal', de Duda Beat

Gabriela Schmidt

Resenha de álbum

Título: Tara e tal

Artista: Duda Beat

Edição: Universal Music

Cotação: ? ? ?

? Terceiro álbum de Duda Beat, Tara e tal foi concebido para manter a artista na pista. Literal, mas também metaforicamente.

Alçada ao posto de revelação da música brasileira com a edição do primeiro álbum, Sinto muito (2018), a cantora e compositora pernambucana chegou chegando há seis anos com disco em que reprocessou o brega da terra natal com os beats dos produtores musicais Lux Ferreira e Tomás Tróia. O álbum Sinto muito gerou o sucesso Bichinho, ainda hoje a música mais conhecida de Duda.

No segundo álbum, Te amo lá fora (2021), a artista burilou a fórmula do disco anterior e abriu o leque rítmico, surfando até na onda do piseiro e do pagodão baiano. Contudo, ficou a sensação de que a exuberância do disco se resumia à produção musical da dupla Lux & Tróia.

Em Tara e tal, álbum que parece se desenvolver a partir da última faixa do antecessor Te amo lá fora (a dançante Tocar você), Duda Beat vira o disco de forma mais radical.

De textura eletrônica, o álbum Tara e tal é moldado para a pista, com sonoridade criada a partir da fusão de beats dos anos 1990 e 2000 – drum'n'bass, Miami bass, boombap, house, dancehall e reggaeton, entre outros gêneros – com batidas da EDM mais atual, em coquetel que inclui Jersey club, drill, future bass, lo fi e funk.

Faixas como Q prazer, Doidinha e Desapaixonar (funk electropop) deixam claro que a virada é radical por desconstruir a identidade artística de Duda Beat. Ao mesmo tempo, a já conhecida Preparada e o drum'n'bass Teu beijo evoluem com maior fluência e parecem embutir a matéria-prima da compositora do álbum Sinto muito.

Já Night maré mistura rock com house em alta velocidade com toques de trance e guitarra, instrumento recorrente no disco desde a faixa de abertura, Drama, house formatada com a guitarra de Lúcio Maia evocando Coco dub (1994), música do álbum que apresentou Chico Science e Nação Zumbi ao Brasil há 30 anos.

No todo, o álbum Tara e tal soa estranho, sem unidade. Música que se insinua na introdução como balada das FMs dos anos 1980, Quem me dera logo cai no pagode em gravação que junta Duda Beat com Liniker. A faixa está fora de sintonia com as faixas mais eletrônicas do disco, anunciado com o solar funk melody Saudade de você, gravado no estilo Miami bass.

Em contrapartida, é justo afirmar que Duda Beat nunca cantou tão bem como no álbum Tara e tal. A evolução na colocação da voz da cantora é nítida em músicas como Na sua cabeça, faixa de refrão aliciante ("Eu me apaixonei / Mas eu vou ficar / Na tua cabeça / Na tua cabeça").

Com versos que conciliam vulnerabilidade e autoestima, Na sua cabeça encerra o disco com síntese do discurso das letras de Duda nesse terceiro álbum com repertório inédito. Mesmo eventualmente vulnerável, Duda Beat já não se entrega à sofrência, driblada com maior dose de autoconfiança.

Só que o discurso soa mais afinado do que o som. Disco dance, criado para as festas e as pistas, Tara e tal tem na arquitetura algo de artificial que limita o alcance do voo mais ousado de Duda Beat.