Marcos Sacramento vai de Brasil a Portugal, pelo caminho do samba, em álbum com letras de Tiago Torres da Silva

Marcos Sacramento vai de Brasil a Portugal, pelo caminho do samba, em álbum com letras de Tiago Torres da Silva
Cantor e compositor fluminense segue poético trilho autoral em disco que sai em 20 de janeiro com tributo a Simone no repertório. Capa do álbum 'Caminho para o samba', de Marcos Sacramento

Aurélio Oliosi / Divulgação

Resenha de álbum

Título: Caminho para o samba

Artista: Marcos Sacramento

Edição: Edição do artista

Cotação: * * * 1/2

? “Tem dias que a tristeza é o caminho para o samba / Tem dias que a saudade se transforma em melodia / E quando isso acontece sete dias por semana / Até a solidão ganha um sabor de boemia”, rima o poeta e compositor português Tiago Torres da Silva nos versos de Caminho para o samba, música-título do álbum que o cantor e compositor fluminense Marcos Sacramento lança em 20 de janeiro.

O samba sobressai na safra autoral composta somente por parcerias de Sacramento com Torres da Silva e gravada há um ano, em 4 e 5 de janeiro de 2021, em sessões realizadas na casa do próprio Sacramento na cidade natal do Rio de Janeiro (RJ).

Com o violão, os arranjos e a direção musical de Luiz Flávio Alcofra, Sacramento cruza Niterói (RJ) com Alfama no álbum Caminho para o samba, seguindo rota pavimentada pela a canção Amor, linha que costura o repertório essencialmente inédito.

Amor aparece quatro vezes como vinheta ao longo das 14 faixas deste 17º álbum de Sacramento, nas vozes do próprio cantor, de Tiago Torres da Silva – no fecho do álbum, na primeira gravação desse poeta, hábil letrista de canções – e das cantoras Áurea Martins e Joana Amendoeira.

Joana Amendoeira é a fadista que há seis anos apresentou no álbum Muito depois (2016) os versos desolados do samba Avesso do destino, única música já gravada antes de Sacramento pôr voz no repertório do álbum Caminho para o samba.

Aos 61 anos, tendo nascido em julho de 1960, Sacramento já provou que sabe achar o melhor caminho para o samba ao lado de Alcofra no álbum Aracy de Almeida – A rainha dos parangolés (2017), primoroso tributo à cantora carioca Aracy de Almeida (1914 – 1988), pioneira dama do samba.

Marcos Sacramento evoca memórias da infância em Niterói (RJ) em 'A criança de lá'

Aurélio Oliosi

Neste atual disco que abre os caminhos do artista em 2022, Sacramento encara percurso mais difícil por seguir trilha autoral que já havia sido desbravada no álbum anterior do cantor, Drago (2019).

Como o samba é a tristeza que balança, como já sentenciou outro poeta, a melancolia ecoa em músicas como o samba-canção De costas para o mar – banhada pelo sopro da flauta de Victor Neto – e Menos o amor, samba paradoxalmente buliçoso, introduzido no disco por sons percussivos extraídos por Alcofra da madeira do violão.

Se Assum de todas as cores expõe tons da aquarela nordestina na poesia de Torres da Silva, em gravação lançada em outubro de 2021 como primeiro single do álbum Caminho para o samba, Dias vazios evoca a madrugada eternamente solitária do fado – gênero musical português povoado por almas vencidas e noites perdidas – na gravação que inclui o toque do baixo de Leandro Vasques.

O ruminado cantar triste de Sacramento em Assum de todas as cores reverbera em tons (um pouco) menos sombrios no samba-canção Contramão, gravado com a viola de 10 cordas de Luiz Flávio Alcofra. Tributo de Tiago Torres da Silva à cantora Simone, o samba Em forma de canção abre caminho no disco para Medo de mim, música em que Luiz Flávio Alcofra toca guitarra.

Reiterando a perda de pique no terço final do álbum Caminho para o samba, A criança de lá ecoa memórias das infância de Sacramento em Niterói (RJ), mergulhando em águas que carregam a ancestralidade indígena e chegam a Portugal, país colonizador da terra brasileira que deu o samba encontrado por Marcos Sacramento no percurso da vida.