Em ofício, DSEI em Rondônia diz usar ivermectina para prevenir Covid-19 em indígenas

Em ofício, DSEI em Rondônia diz usar ivermectina para prevenir Covid-19 em indígenas

Os índigenas estão recebendo tratamento profilático para a Covid-19 com ivermectina, medicamento sem eficácia para a doença, para a população acima de dez anos. É o que diz um ofício distribuído pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Vilhena (RO), órgão vinculado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde. Além disso, todos os indígenas que apresentam sintomas do patógeno estão sendo submetidos a um tratamento "kit Covid" não especificado.

De acordo com o colunista Rubens Valente, do Uol, a unidade de Vilhena do DSEI é responsável por atender 6 mil indígenas de 144 aldeias e 43 etnias diferentes. Quatro casas de saúde indígena funcionam nos municípios de Cacoal e Vilhena, em Rondônia, e de Juína e Aripuanã, em Mato Grosso.

À publicação, a coordenadora do DSEI Vilhena que assina o ofício, Solange Pereira Vieira Tavares, afirmou que esses "kits Covid" foram pedidos pela própria população indígena no ano passado, e estavam sendo utilizados naqueles que assinavam um termo de compromisso. Ela alega ter havido um erro no ofício, pois o distrito estaria focado na vacinação.

Uma funcionária do DSEI teria copiado a frase sobre o uso dos remédios de um ofício anterior como se fosse uma indicação de agora. "Esse texto do parágrafo nono é de quando começou a Covid", justifica Solange.

A coluna revela que os chefes da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Cacoal (RO) e Juína (MT) receberam o ofício em questão. Além da indicação de uso do "kit", a coordenadora pede que as medidas de isolamento social sejam mantidas, e que seja feita uma quarentena entre os dias 15 e 29 de março. Neste caso, entradas e saídas dos indígenas dos distritos estão proibidas, e apenas servidores do DSEI e da Funai podem entrar.

Apesar da justificativa dada por Solange, a indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo, que atua na Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé de Rondônia há 30 anos, afirma que essa orientação é absurda.

"Estou chocada com o que eu li. O DSEI não pode orientar uso de medicamento por ofício, sem que um médico faça os exames, os testes. E ainda mais com esses remédios que podem condenar o indígena a um ataque cardíaco, uma hepatite, uma série de outras doenças", disse Neidinha, como é conhecida.

O médico sanitarista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Douglas Rodrigues, elogia a proposição de lockdown, mas ressalta: ser bem-intencionado não é tudo. Fala em vulnerabilidade imunológica dos índios, que não é um conceito correto. É tratar a vulnerabilidade social dos indígenas como se fosse um problema biológico. Frente ao novo coronavírus, todos somos 'deficientes imunológicos'. E o 'tratamento profilático' então, é o fim da picada a essa altura da pandemia".