Dante Ozzetti e Luiz Tatit abrem a cortina do presente em álbum com dez músicas inéditas

Dante Ozzetti e Luiz Tatit abrem a cortina do presente em álbum com dez músicas inéditas
As cantoras Ná Ozzetti, Patrícia Bastos, Lívia Mattos e Lívia Nestrovski defendem bem a parceria dos compositores no disco agendado para 22 de outubro. Capa do álbum 'Abre a cortina', de Dante Ozzetti e Luiz Tatit

Divulgação

Resenha de álbum

Título: Abre a cortina

Artistas: Dante Ozzetti e Luiz Tatit

Edição: Circus

Cotação: * * * *

? Compositor e mestre de linguística associado à música da cidade de São Paulo (SP), Luiz Tatit completa 70 anos em 23 de outubro. Na véspera do 70º aniversário do artista, 22 de outubro, o selo Circus põe em rotação Abre a cortina, álbum com dez músicas inéditas compostas por Tatit com o conterrâneo Dante Ozzetti, artista de 65 anos completados em 12 de setembro.

O disco celebra alardeados 25 anos da parceria entre esses compositores que procuram trilhar rumos menos explorados da canção brasileira sem deixar forçosamente a obra com caráter experimental.

Apresentada há 22 anos no álbum Estopim (1999), disco em que Ná Ozzetti deu voz às composições Crápula e Nosso amor, além da música-título Estopim, a parceria de Dante Ozzeti e Luiz Tatti geralmente nasce de melodia mostrada por Dante a Tatit para que o letrista faça os versos.

No álbum Abre a cortina, Dante e Tatit quase nunca se furtam de cantar as próprias criações. Contudo, o disco é pautado por vozes de mulheres que defendem bem as novas parcerias dos compositores.

Familiarizadas com a obra dos artistas, as cantoras Lívia Mattos, Lívia Nestrovski, Ná Ozzeti e Patrícia Bastos se revezam nas interpretações de sete das dez músicas inéditas compostas e gravadas por Dante e Tatit durante a pandemia.

Dono de voz portentosa, Renato Braz se acomoda nesse afinado ninho feminino ao dividir com Ná o canto de Sobreviver, canção de aura mais clássica, conduzida pelo mesmo piano de Tiago Costa que embasa Declaração, faixa de estilo similar, valorizada pela limpidez do canto de Ná Ozzetti.

Disco gravado sob a direção musical de Dante Ozzetti, autor dos arranjos e do violão, Abre a cortina se desenrola com os toques de músicos como Adriana Holtz (violoncelo), Bruno Buarque (percussão), Fábio Curi (fagote), Fábio Tagliaferri (viola), Fernando Sagawa (baixo), Fi Maróstica (baixo), Guilherme Held (guitarra), Marta Ozzetti (flauta), Nazaco Gomes (percussão), Renato Rosas (banjo), Rui Barossi (tuba), Sérgio Reze (bateria) e Zezinho Pitoco (clarinete), além do já mencionado pianista Tiago Costa.

O disco descortina as dez músicas inéditas em tons variados. A joia de maior quilate da safra pandêmica dos compositores é Ao menor sinal, tema serelepe, cheio de vida, que evoca o clima dos antigos forrobodós.

Cantada por Tatit com Patrícia Bastos, com o reforço das Lívias Mattos e Nestrovski no coro, Ao menor sinal é música aliciante que celebras as boas vibrações de olho na abertura das cortinas no novo normal. “Ao menor sinal / De que tem canção para dançar / O meu corpo sai de mim / E mexe sem parar”, avisam Patrícia e Tatit.

Na mesma sintonia positiva, a música-titulo Abre a cortina antevê recomeço – no caso, o de um amor a dois, vivido sem ensaio, já que o roteiro da vida é imprevisível – nas vozes de Lívia Nestrovski e Ná Ozzetti. A mesma Ná divide com os anfitriões Dante e Tatit a interpretação do xote Quem me diz.

Já as Lívias Mattos e Nestrovski se afinam no clima circense, quase burlesco, e nos versos biográficos da composição intitulada justamente Duas Lívias.

Música confiada às vozes de Tatit e Patrícia Bastos, Sentimento é assim ecoa a prosódia do Rumo, grupo que propôs outros caminhos para a música brasileira dentro do universo da vanguarda paulista que irrompeu em 1980.

Nas três últimas faixas (Já estava aqui, Vão e Só que não só que sim), as convidadas saem de cena e deixam o canto somente para os compositores, sendo que a tensa canção Vão apresenta solo vocal de Tatit.

Faixa de arranjo climático, a existencialista Já estava aqui flagra os artistas em busca de sentido e de reconhecimento no mundo.

No fim, em compasso que remete à pisada do baião, Dante e Tatit contrapõem temporadas boas e más em Só que não só que sim ao perfilar personagem fake que, entre idas e vindas, ressurge sob os holofotes, pronto para mais criar ilusões populares.

Nesse arremate, Dante Ozzetti e Luiz Tatit mostram que, por mais que evoque eventualmente gêneros e tempos idos, o álbum dos compositores abre a cortina do presente no Brasil pandêmico de 2021.