Dupla As Galvão chega ao fim após 74 anos de atividade pioneira na música sertaneja

Dupla As Galvão chega ao fim após 74 anos de atividade pioneira na música sertaneja

A dissolução da dupla paulista foi anunciada por Mary Galvão em entrevista a André Piunti, publicada no YouTube neste sábado, 19 de junho, no canal deste jornalista especializado em música sertaneja. O motivo do término é o avanço da doença de Alzheimer que obrigou Marilene a se retirar de cena pela perda total da memória.

O fim da dupla As Galvão – inicialmente conhecida com Irmãs Galvão até a troca de nome (por razões esotéricas) no início dos anos 2000 – encerra carreira marcada pelo pioneirismo no universo sertanejo. As Irmãs Galvão foram as primeiras mulheres a desbravar território então dominado por elenco masculino.

Além de cantar, Mary Galvão – nascida em Ourinhos (SP) em 1940 – tocava sanfona na dupla. Já Marilene Galvão – nascida em Palmital (SP) em 1942 – tocava viola enquanto unia a voz com a da irmã para propagar músicas como Beijinho doce (Nhô Pai, 1945), clássico sertanejo lançado pelas Irmãs Castro, mas desde sempre associado às vozes das Irmãs Galvão.

As Irmãs Galvão no início da carreira, desbravada em rádios do interior do estado de São Paulo

Reprodução / Site oficial As Galvão

Quando entraram em cena na Rádio Club Marconi de Paraguaçu Paulista (SP), em 1947, com sete e cinco anos, respectivamente, Mary e Marilene certamente nem sonhavam em pavimentar trajetória tão longeva na música sertaneja.

De rádio em rádio pelo interior paulista, as irmãs acabaram contratadas pela RCA Victor, gravadora na qual debutaram em 1955, ano em que as Galvão registraram, em disco de 78 rotações por minuto, as músicas Carinha de anjo (Paschoal Yanuzzi e Fábio Mirhib) e Rincão Guarani (Maurício Cardozo Ocampo, Diogo Mulero Palmeira e Centorion).

Começou, naquele ano, bem-sucedida trajetória fonográfica pavimentada pelas gravações de toadas, modas de viola e rasqueados, gêneros musicais recorrentes no universo sertanejo. As Irmãs Galvão gravaram discos com regularidade até o fim da década de 1980.

A partir dos anos 1990, a discografia foi ficando cada vez mais espaçada na medida em que a dupla passava a ser cada vez mais reconhecida pela primazia de Mary e Marilene terem imprimido assinatura vocal feminina na música sertaneja quando apenas os homens cantavam modas caipiras.

Essa trajetória pioneira foi celebrada em 2017, ano em que as Galvão festejaram sete décadas de carreira, com a edição do DVD Soberanas – 70 anos ao vivo e com o documentário Eu e minha irmã – A trajetória das Irmãs Galvão, dirigido por Thiago Rosente.