Mariano Marovatto refaz 'Funeral de um lavrador' como a trilha do Brasil mortal de 2021

Mariano Marovatto refaz 'Funeral de um lavrador' como a trilha do Brasil mortal de 2021

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♪ Em 1965, Chico Buarque ainda era compositor debutante – e mais um entre tantos outros estudantes da faculdade de arquitetura e urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) – quando foi convidado pelo escritor e psicanalista Roberto Freire (1927 – 2008), então diretor artístico do grupo amador do Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), para musicar Morte e vida severina (1955), poema de João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999).

De início, Chico recusou a empreitada, por ter ciência de que o poeta era refratário à música, mas acabou pondo melodia adequadamente triste nos versos para a encenação feita pelo Tuca a partir de Morte e vida severina.

De um trecho do poema, nasceu Funeral de um lavrador (1965), composição que seria gravada em 1966 pelas cantoras Nara Leão (1942 – 1989) e Odete Lara (1929 – 2015) e que passaria a fazer parte da discografia oficial de Chico Buarque a partir de 1967, ano em que o artista editou single com a gravação da parceria com João Cabral.

Decorridos 56 anos, os versos de Funeral de um lavrador são reinterpretados por Mariano Marovatto como a trilha sonora do Brasil funesto de 2021.

“Sob a sombra da pandemia, versos como ‘não é cova grande, é cova medida’ e ‘é a parte que te cabe deste latifúndio’ ganham atualidade no Brasil de 500 mil novas e evitáveis sepulturas”, analisa o cantor, compositor e escritor carioca, de volta ao Brasil após temporada de três anos em Portugal.

Capa do single 'Funeral de um lavrador', de Mariano Marovatto

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Em gravação ambientada em atmosfera cool, sujada pelo toque noise da guitarra de Thiago Nassif e pelas programações e o baixo de Ricardo Dias Gomes, Marovatto refaz Funeral de um lavrador em single programado para quinta-feira, 17 de junho.

O single Funeral de um lavrador é a terceira amostra de EP, Canções para a juventude, que o artista lança em julho com releituras de cinco músicas do cancioneiro brasileiro. A mixagem e a masterização do disco foram feitas na Patagônia pelo produtor argentino Martin Scian.

Antes da parceria de Chico com João Cabral, Marovatto apresentou singles com abordagens pessoais de Sutil (Itamar Assumpção, 1988) e Filme de terror (Sérgio Sampaio, 1973) – música que, assim como Funeral de um lavrador, se ajusta à trilha sonora do sepulcral Brasil de 2021.

O repertório do EP Canções para a juventude também inclui músicas dos repertórios de Bartô Galeno e Odair José, cantores e compositores historicamente rotulados como cafonas pelas elites culturais do Brasil.