João Gilberto, eternizado pela bossa que nunca envelhece, tem os 90 anos celebrados em álbum coletivo com gravações inéditas

João Gilberto, eternizado pela bossa que nunca envelhece, tem os 90 anos celebrados em álbum coletivo com gravações inéditas

Nesta quinta-feira, 10 de junho de 2021, o Bruxo de Juazeiro – assim caracterizado por um reverente Caetano Veloso na letra da música A bossa nova é foda (2012) – poderia estar festejando o 90º aniversário, se não tivesse partido há dois anos, recluso e silencioso, como viveu na maior parte destes 90 anos.

A melhor homenagem que poderia ser prestada hoje a João e aos seguidores do artista, o baiano mais universal da música do Brasil, seria a reedição oficial dos álbuns que constituem o tripé fundamental da obra do gênio. Nunca sequer editados em CD, por conta do litígio judicial entre o cantor e gravadora EMI Music (encampada em 2013 pela Universal Music), os álbuns Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961) estão disponíveis somente de forma extraoficial.

Como essa homenagem ainda está por ser feita, coube ao Japão – país que reverencia João e a bossa nova mais do que o próprio Brasil – produzir um álbum, João Gilberto eterno, com gravações inéditas de músicas do repertório do cantor e violonista para celebrar a efeméride.

Programado para ser lançado em 16 de junho, com direito à edição em CD no Japão, o disco João Gilberto eterno foi orquestrado com produção musical repartida entre Mario Adnet (criador de vários arranjos) e Shigeki Miyata. Ao longo de 15 faixas, artistas do Brasil e do Japão se alternam na interpretação de músicas apresentadas ou redimensionadas na voz de João.

Capa do álbum 'João Gilberto eterno'

Divulgação

No time brasileiro, Guinga e Mônica Salmaso caem juntos no samba Chega de saudade (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Moreno Veloso canta Bim bom (João Gilberto, 1958), tema do curto cancioneiro autoral de João. Leila Pinheiro dá voz a Você e eu (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, 1961).

João Donato se une com Antonia Adnet para reviver Minha saudade (João Donato,1955, com letra de João Gilberto a partir de 1959). Joyce Moreno registra Estate (Bruno Martino e Bruno Brighetti, 1960), canção italiana que João vestiu de refinado bolero em gravação para o álbum Amoroso (1977). Rosa Passos cai no samba Doralice (Dorival Caymmi e Antonio Almeida, 1945).

Daniel Jobim, Dora Morelenbaum e Mario Adnet revivem a eterna Garota de Ipanema (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1962). O mesmo Mario Adnet se junta com a filha Antonia Adnet no samba Isaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti, 1945), refazendo o dueto de João com Miúcha (1937 – 2018) apresentado pelo cantor há 48 anos no álbum João Gilberto (1973).

Do elenco japonês, vale mencionar a presença de Lisa Ono, cantora habituada a gravar discos com repertório brasileiro. Lisa canta a Valsa da despedida (Farewel waltz – Roberto Burns em versão em português de João de Barro e Alberto Ribeiro, 1941). Mesmo ausente da discografia de João Gilberto, a valsa foi cantada pelo artista em especial de 1982 exibido pela TV Bandeirantes.

Além do álbum João Gilberto eterno, seguidores do artista nonagenário têm à disposição substanciais gravações inéditas do cantor, disponibilizadas pelo Instituto Moreira Salles.

Trata-se de saboroso aperitivo para esperar outubro, mês em que a editora Companhia das Letras promete pôr no mercado literário a biografia de João Gilberto escrita pelo musicólogo Zuza Homem de Mello (1933 – 2020). Em suma, João está vivo!