Por causa do antidoping, aceitação do fisiculturismo como esporte olímpico foi meio a meio, diz presidente da IFBB-BA

Por causa do antidoping, aceitação do fisiculturismo como esporte olímpico foi meio a meio, diz presidente da IFBB-BA
O Fisiculturismo não conseguiu entrar no programa dos Jogos Olímpicos de Paris-2024. No entanto, a modalidade é um esporte olímpico e fez parte das disputas do Pan-Americano de 2019, em Lima, no Peru, onde o Brasil foi representado por dois atletas, um deles o baiano Juscelino Santos. Uma polêmica é o uso de esteroides anabolizantes, prática comum no meio. Inclusive a questão gerou dúvidas e fez muitos atletas torcerem o nariz quando souberam da novidade, como conta o presidente da Federação Baiana de Fisiculturismo (IFBB-BA), Marcos Santos.

"Foi meio que 50% positivo e 50% negativo. Porque a gente olha o fisiculturismo e a primeira coisa que a pessoa acha que para ter um físico deste tamanho tem que usar um monte de esteroides anabolizantes e tal. E dentro do esporte olímpico você precisa fazer exames antidoping", declarou em entrevista ao Bahia Notícias. "Alguns treinadores e alguns atletas não queriam que fosse justamente por causa do uso de esteroides", completou.

No entanto, o dirigente ressaltou que alguns campeonatos como o Brasileiro e Sul-Americano obrigam os atletas a fazerem exames antidoping, "justamente para conseguir espaço como o esporte olímpico".

Marcos Santos é presidente da IFBB-BA | Foto: Gabriel Lopes / Bahia Notícias

SAÚDE X ANABOLIZANTES

Esporte é sinônimo de saúde, enquanto os anabolizantes são prejudiciais ao corpo. Marcos Santos procura desmistificar que os esteróides são os principais meios para ter ficar forte e musculoso. O dirigente frisou que o acompanhamento médico é de extrema importância para administrar as doses de hormônios para que não prejudiquem o corpo do atleta.

"Quando o atleta tem um médico acompanhando, toda dosagem que ele vai fazer tanto de proteína que ingere na dieta, quanto algum hormônio que precisa utilizar, porque está deficiente. Todo esse trabalho é acompanhado pelo médico. Então, o atleta faz uma bateria de exames antes de fazer a preparação para o médico do esporte direcionar: "Olhe, não coma mais proteína. Se tem muito carboidrato e se aumentar isso pode desenvolver uma pré-diabetes e diabetes. Tudo isso com o consumo do alimento, não é por causa do hormônio ou algo do tipo não. Tudo precisa de um acompanhamento médico. O que acontece em relação ao esporte que as pessoas procuram entrar no esporte, fazem tudo que um atleta está fazendo sem antes passar por um médico. Então, vira uma bomba relógio. Ele pode desenvolver diabetes e não sabe por quê. Pode ter um AVC e não sabe por quê. Pode ter um problema cardíaco... Então, tem todo um cuidado que o atleta tem que ter, porque senão ele não dura", defendeu.

Foto: Divulgação / IFBB-BA

"No fisiculturismo, para que você diminua o risco, tem que ter o médico ali colado com você. Porque você ingere mais proteína do que deveria ingerir, 2kg seria o normal para ter hipertrofia. Um atleta come mais do que 2kg de proteína por peso corporal. Até a ingestão proteica do atleta é superior ao que uma pessoa normal deveria fazer. Então, o que ele tem que fazer para não sobrecarregar o fígado e os rins? Porque vai haver uma sobrecarga. Então, o médico vai direcionar para que não sobrecarregue. Problema cardíaco, se tiver um abuso de hormônio, vai hipertrofiar o coração. Vários atletas já morreram por problema no coração, porque não tiveram o acompanhamento médico devido ao lado. E tem que ter, tem que ter. Se o cara resolver entrar no fisiculturismo ou qualquer outro esporte de alto rendimento, vai precisar de acompanhamento médico para saber se vai suportar o treino. No fisiculturismo, se o cara não tiver uma recuperação boa do treino que ele faz e devido às competições para voltar a competir de novo no ano, três ou quatro vezes, ele não aguenta. Precisa mais do que nunca procurar um médico do esporte que viva o esporte para poder ver se ele pode ou não seguir", continuou. "Antes de qualquer esporte tem que procurar um médico para ver articulações, porque senão vai se machucar. Tem que ter um profissional acompanhando, um coach para se preparar para saltar. O fisiculturismo não é diferente. Com relação a essa divisão, foi justamente por isso que tem muitos atletas que acham que não precisam passar pelo médico. Só o que o coach disser, o que o amigo faz está valendo, está ficando grande, mas não é só ficar grande. É que fique forte, grande de forma saudável", ressaltou.

MAIS APOIO COMO ESPORTE OLÍMPICO

Por ter se tornado esporte olímpico, o fisiculturismo ganhou mais incentivos e apoio dos governos estadual e federal.

"Conseguimos um espaço como esporte olímpico. Antigamente o fisiculturismo era visto como estilo de vida. Hoje não, nos tornamos esporte olímpico. Então, vamos poder representar o Brasil nos Jogos Olímpicos e nos Jogos Pan-Americanos também. Já começamos em 2019. Tivemos atletas brasileiros disputando. O Brasil e o nosso estado tem uma quantidade de atletas muito grande e a galera com um físico muito competitivo. Então, por ser um esporte olímpico, a gente consegue apoio direto com a Sudesb, com o FazAtleta. Temos um meio de conseguir verba para esses atletas que têm interesse em participar. Participando como atleta olímpico, tem um pagamento mensal para que ele se prepare. A ideia é trazer essa visão para as pessoas. Muita gente não sabe que hoje o fisiculturismo se tornou esporte olímpico, pensam que é só boxe, futebol, entre outros. Mas não, o fisiculturismo também é esporte olímpico e a gente tem esse projeto de ampliar ainda mais essa situação para que a gente consiga fazer uma equipe baiana para junto com a equipe brasileira disputar os Jogos Olímpicos e Pan-Americanos", destacou Marcos Santos.

O FazAtleta é uma iniciativa do Governo do Estado da Bahia. Criado em 1999, o programa funciona através de uma concessão de abatimento no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) dado às empresas que apoiam financeiramente projetos esportivos aprovados pela Comissão Gerenciadora do Programa.

"A gente organiza todo um projeto anual para o atleta e aí dentro daquele projeto anual a gente classifica para competir o regional, nacional e os internacionais que vão ter durante o ano. A gente monta o projeto, manda para o Faz Atleta", explicou.

Foto: Divulgação / IFBB-BA

Outro benefício que o fisiculturismo herdou por se tornar esporte olímpico é o Bolsa Atletas, mantido pelo Governo Federal desde 2005. Trata-se de um programa de patrocínio individual de atletas de alto rendimento. No entanto, eles precisam conquistar bons resultados em competições nacionais e internacionais.

"As pessoas têm que começar a entender que a visibilidade para o esporte é absurda. Os benefícios que vão ter, o Bolsa Atleta, o FazAtleta. Só vão conseguir apoio da Sudesb justamente por ter se tornado esporte olímpico. Os incentivos financeiros do governo federal, estadual e prefeitura nunca iam chegar no esporte. A gente ia continuar sendo apenas 1% da população mundial que, graças a Deus, hoje não é mais, porque cresceu bastante", frisou Marcos Santos.

CAMINHO OLÍMPICO

Para os atletas de fisiculturismo que colocaram como meta disputar um Pan-Americano ou até chegar nas Olimpíadas, caso futuramente passe a integrar a programação, Marcos Santos também explicou o caminho a ser seguido para conseguir uma convocação para a equipe brasileira. Quem monta o time é a Confederação Brasileira de Musculação, Fisiculturismo e Fitness (CBMFF). As categorias são Bikini Fitness no feminino, e as masculinas Games Classic e Men's Physique.

"Ele vai passar primeiro pelo Campeonato Baiano, ficar entre o top 3. Vai para o brasileiro e também se classifica entre os três. Depois tem o Sul-Americano e novamente precisa se classificar entre os três", explicou. "Temos categorias específicas para disputar as olimpíadas, a Bikini Fitness na feminina, a Games Classic na categoria masculina e a Men's Physique também na masculina. Os campeões, quem tiver o melhor destaque dentro desse cenário de competições, serão convocados pela Confederação Brasileira para fazer parte da equipe brasileira de fisiculturismo", finalizou.