Primeiro álbum solo de Maurício Tapajós ganha edição digital para lembrar o engajado compositor

Primeiro álbum solo de Maurício Tapajós ganha edição digital para lembrar o engajado compositor

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♪ A reposição em catálogo, em edição digital, do único álbum solo gravado pelo compositor, cantor e produtor musical carioca carioca Maurício Tapajós (27 de dezembro de 1943 – 21 de abril de 1995) é nota musical afinada em Brasil dissonante.

Lançado originalmente em 1980 em LP, pela gravadora independente Saci, e nunca editado em CD, o álbum Olha aí! chega aos aplicativos de música em 28 de maio com as dez músicas do repertório inteiramente autoral.

A rigor, Maurício Tapajós tinha sido apresentado como compositor ao Brasil 15 anos antes deste disco já obscuro, em gravação da música Carro de boi – parceria do artista com o poeta e letrista Cacaso (1944 – 1987) – lançada nas vozes d'Os Cariocas no quarto álbum do grupo, Os Cariocas de quatrocentas bossas (1965).

Três anos depois, em 1968, a cantora Doris Monteiro ampliara a visibilidade de Tajajós ao lançar em single o samba Mudando de conversa, parceria do compositor com Hermínio Bello de Carvalho.

Contudo, foi somente a partir da década de 1970 que o nome de Maurício Tapajós Gomes começou de fato a ganhar relevo na música brasileira, e em duas frentes, como compositor e como artista engajado contra a oligarquia das gravadoras e editoras musicais.

Ativista atuante na luta pelos direitos autorais dos compositores, Tapajós foi nos anos 1970 um dos fundadores da Sombrás (Sociedade Musical Brasileira) e, em 1980, criou a Amar (Associação de Músicos, Arranjadores e Regentes), duas instituições importantes nessa batalha que acabaram se amalgamando.

Ao mesmo em que lutava por remunerações mais justas dos direitos autorais, Maurício Tapajós foi sendo cada vez mais gravado por cantores e grupos de MPB, tendo firmando parcerias como Aldir Blanc (1946 – 2020) e Paulo César Pinheiro, entre outros compositores.

Com Pinheiro, Tapajós compôs De palavra em palavra (1971, com a adesão de Miltinho), Pesadelo (1972), Agora é Portela 74 (1974) e Tô voltando (1979), samba que se tornou um dos hinos da Anistia ao ser propagado pela voz da cantora Simone naquele ano de 1979 em que os ventos da abertura começavam a soprar no Brasil.

Com Aldir Blanc, Tapajós fez o samba-sem-exaltação Querelas do Brasil (1978) – lançado nas vozes do Quarteto em Cy e da cantora Elis Regina (1945 – 1982) – e gravou álbum duplo lançado em 1984 com 20 músicas, sendo onze da parceria.

Por ter sido editado em CD em 1994, o álbum Aldir Blanc – Maurício Tapajós (1984) se tornaria menos raro do que o primeiro LP de Tapajós, Olha aí!.

Embora tenha rebobinado neste álbum de 1980 os sucessos Mudando de conversa, Pesadelo, Querelas do Brasil e Tô voltando, Maurício Tapajós apresentou em Olha aí! músicas autorais então inéditas, compostas com Cacaso (Falando de cadeira), Paulo César Pinheiro (Filha de vizinha, Rotina de lar e Sem pena de mim – as três nunca mais gravadas) e João Nogueira (1941 – 2000), parceiro de Tapajós em Dama da noite (1979), composição gravada no ano anterior por Nogueira.

Como curiosidade no repertório do álbum Olha aí!, há a única parceria de Maurício Tapajós com Guinga, Resta sobre o bar, assinada também por Paulo César Pinheiro.

Como o único álbum de Maurício Tapajós disponível em catálogo digital é o póstumo Sobras repletas (2006), o relançamento de Olha aí! – precedido pela edição do single Tô voltando em 14 de maio – presta bom serviço à memória musical do Brasil no momento em que o país está às voltas com tantas querelas.