Billy Porter revela ser HIV positivo há 14 anos: 'A verdade é a cura'

Billy Porter revela ser HIV positivo há 14 anos: 'A verdade é a cura'

Valerie Macon/AFP

Billy Porter revelou o diagnóstico de HIV positivo, após 14 anos convivendo com a doença. O artista abriu o coração ao falar sobre o diagnóstico, frustrações e mágoas em entrevista à Hollywood Reporter publicada nesta quarta-feira (19).

"Há 14 anos convivo com essa vergonha em silêncio. HIV-positivo, de onde venho, uma igreja pentecostal com uma família muito religiosa, é o castigo de Deus", afirma Porter.

O ator americano conta que 2007 foi o pior ano de sua vida por ter recebido os diagnósticos de HIV e diabetes tipo 2 e por ter assinado os papéis de uma falência.

O fato de vir de uma família religiosa da Pensilvânia também influenciava na "vergonha" que sentiu. Por isso, o fato de ser portador do vírus foi um segredo que ele guardou até de sua mãe.

"Minha mãe já havia passado por tanta perseguição por parte da igreja por causa da minha estranheza, que eu simplesmente não queria que ela vivesse o seu 'eu te disse'".

"Não queria colocá-la nisso. Estava envergonhado, eu era a estatística que todo mundo dizia que eu seria".

Além disso, Porter tinha medo das consequências em sua vida profissional. Naquela época, ele ainda não tinha ganhado o Tony pela performance no musical "Kinky Boots" (2013), muito menos estrelado "Pose" (2018).

"Estava tentando ter uma vida e uma carreira, e não tinha certeza se conseguiria se as pessoas erradas soubessem. Seria apenas outra forma de as pessoas me discriminarem em uma profissão que já é discriminatória", continuou.

"Tentei pensar a respeito o mínimo que pude. Tentei bloquear, mas a quarentena me ensinou muito. Todos nós fomos obrigados a sentar e a calar a boca".

Billy Porter, de ‘Pose’, agradece o prêmio de melhor ator em uma série de drama, no 71º Emmy no Microsoft Theatre, em Los Angeles, no domingo (22)

Reuters/Mike Blake

Reflexões do isolamento

O ator pensou a respeito do diagnóstico, do tratamento que faz há anos e decidiu que era hora de falar por conta do tempo que a quarentena lhe ofereceu.

"A COVID criou um espaço seguro para eu parar, refletir e lidar com o trauma da minha vida", diz. Ele ficou isolado com o marido em uma casa alugada em Long Island.

Porter também explica como a atuação em "Pose", seu trabalho de maior destaque, foi sensível já que Pray Tell era HIV positivo, mas escondia de todos, assim como ele na vida real.

Ele lembra de quando Ryan Murphy, autor da série, o convidou e falou que ele precisaria "estar inclinado para alegria".

"Havia alegria superficial, mas também havia uma sensação de pavor, o dia todo, todos os dias. Não era o medo de que [meu diagnóstico] fosse revelado ou que alguém me expusesse; era apenas uma pena que isso tivesse acontecido em primeiro lugar".

"E como uma pessoa negra, particularmente um homem negro neste planeta, você tem que ser perfeito ou eles vão te matar. Mas olhe para mim. Sim, eu sou a estatística, mas eu a transcendi. É assim que o HIV-positivo se parece agora. Eu vou morrer de outra coisa antes de morrer disso".

"Estou no momento mais saudável de toda a minha vida. Então é hora de deixar tudo isso ir e contar uma história diferente. Não há mais estigma - vamos acabar com isso. Está na hora. Eu tenho vivido isso e tenho vergonha disso por tempo suficiente".

Próximos trabalhos

Billy Porter no Grammy 2020

Jordan Strauss/Invision/AP

Revelar o diagnóstico é também um momento de libertação para conseguir viver feliz e plenamente o presente.

E a lista de atividades e planos é longa com o lançamento de novas músicas e de um livro de memórias. Além disso, no cinema, Porter se prepara para interpretar a fada madrinha em Cinderela e dirige seu primeiro filme.

"A verdade é a cura. E espero que isso me liberte. Espero que isso me liberte para que eu possa experimentar uma alegria real e pura, para que possa experimentar a paz, para que possa experimentar a intimidade, para que possa fazer sexo sem vergonha".

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