'A Dama' comemora show no Salvador Fest: '1º ano que tem mulher no palco do pagodão'

'A Dama' comemora show no Salvador Fest: '1º ano que tem mulher no palco do pagodão'
Mulher, preta, lésbica e cantora de pagode, Alanna Sarah, A Dama, usa seu espaço na música para cantar sobre empoderamento feminino e quebrar as barreiras causadas pelos esteriótipos que ela quer quebrar. "Sou a Dama do pagode e não passo pano para homem machista. Se tá de roupa curta, deixa ela usar. Se tá no paredão, deixa dançar", diz o refrão de um dos seus sucessos.

Apesar de acumular vários hits durante esses quatro anos de carreira, como a canção 'Pirraça', que tem mais de 8 milhões de visualizações no Youtube, a pagodeira lamenta a falta de visibilidade das mulheres no pagode baiano.

"Eu ainda acho que existe um tabu que priva nós mulheres do pagode de chegar aonde a gente almeja. O pagode é extremamente machista, a gente sabe disso. Todos os dias é uma nova barreira que a gente precisa enfrentar para conquistar o nosso lugar", afirma A Dama.

Contudo, em meio às dificuldades de se manter na indústria, Alanna reconhece o seu feito no gênero que é predominantemente ocupado por homens. "[No início] foi bem difícil. Quando eu comecei não tinha ninguém, os empresários disseram que não acreditavam em projetos com mulheres. E quando eu vinha cantando as minhas músicas, passava no lugares e tal, os caras em si do pagode comentavam: 'Vai dar certo', 'Olha que loucura'... E hoje ver que eu consegui calar a boca de todos esses homens é incrível, é surreal, é tão bom", vibra a baiana.

Mas mesmo depois de ter sido considerada a artista revelação do carnaval de 2020, em Salvador, A Dama segue encontrando percalços na sua trajetória e lamenta a falta de apoio do público feminino.

"Eu vejo músicas bem pesadas no pagode que têm uma proporção muito maior do que as minhas. Até mesmo as mulheres em si, que não se sentem representadas por mim, preferem estourar um hit masculino que um feminino. Eu sofro algo diário... Todos os dias eu tenho que lutar contra mim mesma, lutar contra os homens, lutar contra certas mulheres que não se sentem representadas por mim", diz Alanna.

GRANDES SHOWS

Depois de dois anos sem realizar shows por conta da pandemia da Covid-19, A Dama retoma com a agenda e projetos novos. Entre eles, estão duas grandes apresentações que ela realizará neste ano: AfroPunk e Salvador Fest.

No festival AfroPunk Bahia, Alanna completa a grande de atrações ao lado de grandes artistas como Emicida, o rapper Baco Exu do Blues e MC Carol, com quem ela dividirá o palco.

Ao Bahia Notícias, a baiana contou como surgiu o convite para cantar ao lado da carioca: "A gente já se seguia, conversei com ela algumas vezes, mas nada de 'ser amiga'. Aí a gente conversou, falamos um pouco de música. Aí quando surgiu essa questão de estar no AfroPunk [com Mc Carol], uma mulher empoderada, braba, do Rio de Janeiro... Para mim, é uma honra estar com Carol. Ela tem muito tempo no funk e eu já a acompanhava antes, com vários hits de empoderamento. Vai ser incrível estar com ela".

No Salvador Fest, A Dama será a primeira cantora de pagode na história do evento a ter um show completo. Para ela, isso é uma grande conquista. "A gente tem vários nomes femininos no pagode. Dentre essas mulheres todas aí, saber que eu fui escolhida para estar ali, representando essas mulheres... Em 15 anos de Salvador Fest, esse é o primeiro ano que tem uma mulher em cima do palco do pagodão. E assim como também só tem Ludmilla no palco principal. [...] Eu costumo dizer que essa revolução no pagode não é só minha, é de todas essas outras mulheres que chegaram primeiro que eu. Porque se não fossem elas enfrentando primeiro, eu acho que não estaria aqui".

LANÇAMENTO DE CD

No dia 19 de agosto, A Dama do Pagode lançou o CD "Ela que se Bancam", um álbum que conta com os seus principais sucessos e canções novas também. Entre as músicas, está "Coroa da Lancha", sua aposta para o Carnaval de 2023.

"A maioria das minhas músicas é de empoderamento, são fortes, voltadas para as mulheres. Por que 'Elas que Se Bancam'? Porque em todas as letras eu estou sempre colocando as mulheres como alguém que não depende do cara, que só precisa dela, do dinheiro dela...", explica Alanna sobre o nome escolhido para o título do CD.