Dialetos italianos: origem, semelhanças e diferenças

Dialetos italianos: origem, semelhanças e diferenças
É muito comum durante as aulas de italiano o professor ou professora mencionar um fato histórico sobre a Itália: apesar de ter um idioma oficial, o país conta com dezenas de dialetos regionais, também chamados de dialetos italianos. Isso deixa muita gente curiosa e intrigada, afinal, no Brasil, não estamos acostumados a ter tantas línguas diferentes no mesmo país.

A seguir você irá entender melhor como foi possível que tantos dialetos tenham se originado num país tão pequeno, e como eles se assemelham e diferem entre si.

A origem da língua italiana

Antes, porém, precisamos entender o idioma oficial da Itália - o italiano. Afinal, como, em meio a tantos dialetos, um país conseguiu escolher uma língua para chamar de oficial?

Isso aconteceu há não muito tempo, historicamente falando, e foi durante a unificação italiana, no século XIX. Pois é, a Itália é um país ainda mais jovem que o Brasil.

Em 1861, os diversos reinos da península itálica foram unificados tornando-se o Reino da Itália. Governado pela casa de Sabóia, que governava até então a Sardenha. A unificação (também chamada de Risorgimento) foi o início de importantes mudanças na Itália, incluindo o idioma.

Agora um país unificado, a Itália precisava também ter um idioma central. Para tanto, foi escolhido o Dialeto Toscano, especialmente o que era falado em Florença, um dos mais importantes centros culturais da Itália. Antes da unificação do país, o dialeto era uma língua falada principalmente pela elite da sociedade florentina.

Um dos principais motivos para essa escolha foi, além da importância social e financeira do dialeto, o fator cultural - Dante Alighieri, o maior escritor da história italiana, usou a língua toscana para escrever suas obras.

Superando os dialetos italianos: a difusão da nova língua

País unificado, idioma padronizado: tudo em ordem, certo? Na verdade, não. Em 1861, ano da unificação, apenas 2,5% da população sabia falar italiano. O restante - 97,5% -, ainda se comunicava por meio dos dialetos locais.

A língua italiana só se tornou dominante no país da década de 1960 para frente. Muito recente, não é? Na década de 1950, por exemplo, o italiano ainda era menos falado que outros dialetos: 18% da população usava a língua oficial, 18% alternava entre italiano e dialetos, e 64% só falava em outros dialetos.

Como surgiram os dialetos na Itália

Já mencionamos que a Itália se originou de muitos e diferentes reinos, ducados e repúblicas, certo? Cada uma delas tinha o seu próprio dialeto, que por sua vez, tinham diferentes origens e raízes linguísticas. Isso proporcionou uma grande diversidade, com dialetos variando muito entre si e tendo suas próprias especificidades.

Por tudo isso, é muito difícil precisar a origem de cada uma das centenas de dialetos do país. No entanto, podemos ter uma ideia do todo ao compreender como cada região do país recebeu diferentes influências linguísticas.

Os dialetos do norte surgiram a partir da mistura de influências latinas, celtas, germânicas e ligúricas. Nos dialetos centrais, é comum a presença de substrato etrusco, enquanto no sul, o grego influenciou bastante. Desta forma, era comum que dialetos com maior proximidade geográfica possuíssem semelhanças, se tornando cada vez mais diferentes de dialetos conforme a distância aumentava.

Outro fator de influência nos dialetos foi a dominação estrangeira. Em diferentes períodos, regiões da Itália foram governadas por outras potências, como França, Espanha e Áustria-Hungria.

O uso dos dialetos e do italiano hoje

Atualmente, os dialetos ainda são bastante usados no dia a dia pelos italianos. Mais da metade da população os utiliza para se comunicar com familiares e amigos, tendo o italiano como língua franca para outras situações.

O uso da língua italiana no cotidiano também varia em cada região. No sul, apenas 28,3% utiliza a língua oficial, enquanto no norte o número é 83,9%.

Conhecendo os principais dialetos italianos

Napolitano

O dialeto napolitano é um dos mais famosos e mais utilizados ainda no país. Ele é parte importante da cultura local e motivo de orgulho para muitos napolitanos. Sua principal característica é o uso do fonema "chi" (pronuncia-se "ki") onde em italiano usa-se o "Pi", como em "Nun chiove chiú" (não chove mais), que em italiano seria "Non piove piú".

Siciliano

A região da Sicília é famosa pelas paisagens, gastronomia, cultura e, claro, pela máfia, que se popularizou a partir do cinema. O Dialeto Siciliano é outra de suas riquezas culturais, sendo bastante diferente de qualquer outro dialeto. Ele sofreu influências de todos os povos que habitaram a Sicília, como gregos, bizantinos, árabes e espanhóis. Como não poderia deixar de ser, também possui muita influência latina, especialmente na pronúncia das vogais finais. Outra característica é que muitas palavras terminam com a letra "u" em vez de "o", como em "mortu", "focu" e "iu" (morto, fuoco e io em italiano)

Milanês

Classificado como dialeto setentrional gaulês, o milanês tem como principal característica a pronúncia que se assemelha ao francês e ao alemão. Utiliza vogais como ö e ü, e conjunções tipicamente francesas, como eau e oeu. Dois exemplos: "me batt el cör" (meu coração bate), e "te gh'ee l'oeucc pusée grand del boeucc" (você tem o olho maior que a barriga).

Romano

Também chamado de romanesco, esse é o dialeto italiano com mais semelhanças à língua oficial. Ainda é comum de se ouvi-lo na televisão, rádios e cinema. Sua principal característica é a pronúncia de "nn" em vez de "nd". Por exemplo, "quanno" e "monno" (quando e mondo em italiano).