Chico César e Laila Garin cantam a dor da vida demoníaca com o verbo árido de Clarice Lispector

Chico César e Laila Garin cantam a dor da vida demoníaca com o verbo árido de Clarice Lispector
Artistas lançam em março o disco com a trilha sonora feita pelo compositor para musical baseado em livro da escritora. ? Primeiro disco a ser lançado, dentre os cinco álbuns preparados por Chico César nos últimos dois anos, O canto de Macabéa ou A hora da estrela aterrissa nos players digitais em 8 de março e, na sequência, ganha edição em CD. Gravado de 15 a 19 de junho de 2021 no estúdio Lontra, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), com produção musical e arranjos de Marcelo Caldi, o disco é assinado pelo artista paraibano com a atriz e cantora baiana Laila Garin.

O repertório é formado por 16 das 32 músicas da trilha sonora composta por Chico César para o espetáculo A hora da estrela – O canto de Macabéa (2020), musical de teatro protagonizado por Laila e baseado no livro A hora da estrela (1977), da escritora Clarice Lispector (1920 – 1977).

Coube a Chico buscar os sons que se afinassem o verbo árido de Clarice. “Clarice gosta de música, mas sua escritura passa longe de voos gongóricos e melômanos. (São) Palavras avaras de som, atentas ao sentido. Palavras gravéticas, secas quase como os personagens de sua novela. [...} Mas busquei a música na própria angulosidade dos assuntos e seus fraseados, seus cortes secos. Nos silêncios embaraçosos e no atrito das almas rurais, provincianas e nordestinas, em contato com os corpos suados e o estrépito sois disant cosmopolita mas ainda hoje provincial e suburbano da cidade improvisada”, relata o compositor em texto escrito para o encarte da edição em CD do álbum A hora da estrela – O canto de Macabéa.

Capa do disco 'A hora da estrela – O canto de Macabéa', de Chico César e Laila Garin

Nana Moraes

No disco, Chico César divide com Laila as interpretações de 13 músicas – Ou, Estou aqui, Zero vocação no ser, Um cachorro não sabe que é cachorro, O grande encontro, Embaixo ou em cima (com a participação de Juliana Linhares, substituta eventual de Laila no espetáculo), Pouca conversa, Ele ela, Dá pena, A pimenta mais ardida, Vermelho esperança (faixa previamente apresentada em single editado em 28 de janeiro), Saudade da zona (cantada com a adesão da atriz Claudia Ventura) e Saudade de mim quando eu morrer – e faz duo com o ator Claudio Gabriel em Desafasta boi e Demoníaca a vida doía.

Intérprete de Macabéa no musical que volta ao cartaz na cidade do Rio de Janeiro (RJ) a partir de 3 de março, Laila Garin sola Um quarto só para mim no álbum gravado com os toques dos músicos Fábio Luna (bateria, flauta, pandeirola e congas), Pedro Aune (baixo) e Pedro franco (guitarra), além do arranjador Marcelo Caldi (piano e sanfona).

“Posso dizer que, através de Chico César, eu canto Clarice Lispector com o meu próprio canto de Laila. Como pode? É que somos todos da mesma matéria de vida, talvez. Temos todos dentro 'uma coisa pura, uma coisa que move montanhas' ”, interpreta Laila Garin em texto escrito para o encarte do disco em que eterniza o canto das músicas mais importantes da trilha sonora do espetáculo.