Caian injeta rock na veia em álbum em que relaciona o vício da paixão aos efeitos das drogas

Caian injeta rock na veia em álbum em que relaciona o vício da paixão aos efeitos das drogas
Otto participa do disco gravado pelo artista baiano com repertório autoral. ? Pelo sotaque universal e pela pegada roqueira de Não me deixe mudo e Comigo, as duas primeiras faixas do álbum autoral que Ricardo Caian lança na sexta-feira, 21 de janeiro, seria difícil identificar de imediato a origem baiana deste cantor, compositor e guitarrista soteropolitano.

Contudo, Paixão e outras drogas – disco que aporta amanhã nos aplicativos de música pelo selo Fo/Go – é em essência álbum de rock gravado entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020 entre estúdios de Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo com produção musical orquestrada por Arthur Romio sob a direção artística do próprio Caian.

Não me deixe mudo contradiz intencionalmente o título imperativo de música do compositor Walter Franco (1945 – 2019), Me deixe mudo (1972), para ecoar grito que recusa o silêncio. Parceiro de Arthur Romio e Lahirí Galvão no já mencionado rock Comigo, Caian quer falar, ter voz e ser ouvido, seja por meio de música alheia – caso de A sós, composta por Jarbas Bittencourt e gravada por Caian com Manuela Rodrigues – ou do próprio repertório, quase sempre composto sem parceiros.

A safra autoral responde por 12 das 13 músicas do álbum Paixão e outras drogas, tendo gerado músicas como Nez, rock que evoca levadas dos anos 1960 e cujos versos contestatórios – cantados em francês pelo autor e em português por Jajá Cardoso, vocalista da banda Vivendo do Ócio – denunciam hipocrisia social em relação à questão da dependência química.

Capa do álbum 'Paixão e outras drogas', de Caian

Patricia Almeida

Como anuncia o título, o álbum versa sobre paixões e outras drogas, relacionando umas às outras. Em Heroína, Caian compara os efeitos das drogas às dependências da paixão em versos como “... A onde mais forte foi você / Foi só eu entrar para me perder”. Já Rehab nº 2 – música escrita por Caian em inglês com inspiração no country-rock do compositor norte-americano Johnny Cash (1932 – 2003) – aborda overdose de drogas e paixão.

“Nessa canção, narro meus questionamentos sobre o que me levou à clínica e quais foram de fato as descobertas nesse processo. Essa faixa eu dedico à memória de Felipe Limande, um colega artista que faleceu no ano de 2021, com que dividi momento de descontração durante o tratamento, quando iniciei os primeiros acordes e versos da canção, que brinca ser uma sequência (da música) da diva Amy Winehouse”, relata Caian, em alusão à composição Rehab (Amy Winehouse, 2006), sucesso da artista inglesa no álbum Back to black (2006).

Faixa gravada por Caian com Otto e apresentada em dezembro como primeiro single do álbum, Novo eu trata de obsessão romântica e da libertação da prisão em que o sofredor eu-lírico se confina por paixão.

O vício da paixão é o tema de Camikasa, música que bafeja o disco no balanço do reggae, com os sopros da banda Skanibais. A levada é mais amena.

No geral, Caian injeta o rock na veia – com os toques dos músicos Arthur Romio (guitarra, teclados e vocais), Lefer (baixo) e Maurício Braga (bateria) – ao falar de paixão e outras drogas na narrativa confessional de álbum que sintetiza as vivências e a trajetória musical iniciada pelo artista em 2007, há 15 anos.